amanhã.

sento-me à beirinha do muro que dá para o rio e espero que o vento me derrube: queria lavar o corpo por dentro como por fora mas não tenho coragem. o dia está quase no fim e eu temo amanhã.
não te ouço chegar. prendes-me a cintura aos braços, ou os braços à cintura, nem sei, e dizes baixinho que me guardas. o sol começa a fugir, pé ante pé, como se fosse para não darmos conta, e acaba por desaparecer atrás do convento de santa clara. o meu peito arde.
a lua sorri e anuncia a noite. as tuas mãos continuam na minha cintura e o meu rosto cheio de lágrimas. inclino-me na tua direcção e digo: guarda-me, sim, por favor, que eu não sei se aguento o chegar da aurora.

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